quarta-feira, 23 de abril de 2014

Em Frente da Porta | Do Lado De Fora - Uma abordagem aos sem-abrigo de Lisboa

Em Frente da Porta | Do Lado De Fora

Uma abordagem à realidade dos Sem-Abrigo de Lisboa 

 A existência de pessoas em condição de SEM-ABRIGO é a evidência mais visível dos processos de exclusão social que a cidade produz quotidianamente. 
A mesma cidade que, plena de contrastes, se orgulha de ser o espaço de cultura, de liberdade e de cidadania, de conforto e de qualidade de vida, que a colocam nos lugares cimeiros dos rankings mundiais.
Bem sabemos que a cidade gera um conjunto de vivências e de condições que propiciam este fenómeno que, associado a outras problemáticas, como as patologias e as dependências, torna a existência de SEM-ABRIGO, uma quase inevitabilidade.
A este fator, devemos, nos dias de hoje, acrescentar as novas configurações sociais das populações em risco de exclusão e vulnerabilidade social, que transformam a realidade dos sem-abrigo num fenómeno heterogéneo e muito complexo, de difícil análise e de delicada observação.
A não ser que, organismos públicos e privados concertem estratégias e definam uma intervenção cuidada e continuada, avaliada de forma crítica e com a definição clara de objetivos e prioridades.
As pessoas que se encontram nesta situação estão, desde logo, privadas de exercer os seus direitos básicos de cidadania, como o Direito à Morada e a sua própria existência enquanto cidadãos. Estão afastados do acesso aos sistemas de informação de apoio e ao conjunto das respostas sociais formais.
Sabemos que, regra geral, os SEM-ABRIGO não se dirigem aos serviços e quando o fazem, chocam com a rigidez dos mecanismos de distanciamento, dos procedimentos e das regras que são criadas e impostas pelas necessidades funcionais e interesses dos serviços e dos seus profissionais…
Esta forma de acolher representa uma barreira quase intransponível. Um obstáculo perante o qual, a maioria dos que a ele recorrem, desiste.
 
Mas, quem são estas pessoas? Quantos são aqueles que vivem nas ruas da nossa cidade?
A ausência de números concretos e dados atualizados e credíveis sobre estes nossos concidadãos (e também pelo facto de ser um fenómeno em constante mutação), levou-se a estruturar uma intervenção que nos permitisse encontrar as respostas e estas e outras questões, importantes e indispensáveis, para podermos agir com rigor e com assertividade.
É importante ir ao encontro do outro, penetrar no seu espaço e no seu mundo e deixarmo-nos ir, para compreender o que está por detrás de cada gesto ou de cada atitude, para perceber a linguagem do outro e a sua capacidade de compreender o que comunicamos como verdades absolutas.
E aí, ganhamos a confiança e estabelecemos o elo necessário que nos permite estar presentes e observar como cada um, à sua maneira e por sua iniciativa, vai desenhando o seu caminho e definindo o seu percurso.


 

Entendemos este nosso trabalho como uma missão. Predispusemo-nos a ouvir, a criar cumplicidades. Desejamos que todos possam usufruir deste estudo da realidade dos sem-abrigo de Lisboa e encontrem nele um contributo positivo para o seu trabalho.
 
Dignidade, não é apenas garantir o acesso a bens e serviços. É também denunciar publicamente as situações encontradas, dar voz e protagonismo aos próprios, incentivar neles a vontade de participar e proporcionar as condições para que decidam sobre as suas próprias vidas.
 
“É no esforço que cada um de nós está predisposto a fazer e a capacidade que tivermos de conhecer com profundidade a realidade em que estas pessoas vivem e de quem com ela se relaciona, que estaremos à altura de efetivar uma intervenção realista e qualificada, consistente e produtiva”.
 
João Marrana,
Lisboa, Janeiro de 2014

 
 
 

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